quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Vida sintética

Notícia: Avanços na tecnologia de manipulação genética permitirão, nos próximos meses, fabricar DNA em laboratório e torná-lo "autônomo" do ponto de vista evolutivo.(Folha de São Paulo, Mais!,16/08/2009)

Ainda existe quem questione o evolucionismo de Darwin e já se fala num evolucionismo sintético!

Tudo acontece tão rápido! Faz pouco tempo e nos admirávamos com os primeiros bebês de proveta, com a inseminação artificial.

Star treck já não me parece tão absurdo, assim como Frankstein, que hoje seria facilmente montado, sem aquelas costuras mal feitas que aterrorizaram os expectadores do cinema e povoram a imaginação dos leitores de Mary Shelley.

Onde a literatura ? Onde a ficção? Onde o científico? Impossível separar tudo, impossível ignorar as tangências. Isaac Asimoc escreveu, há 59 anos, Eu, robô, que deu origem ao filme de imenso sucesso, visto nos cinemas em 2005 e hoje, repetido nos canais de TV a cabo. Ontem vi, ou revi, O homem bicentenário, estrelado por Robin Willians, criado a partir de um conto de Azimov: Lado a lado. Após ler a notícia da Folha de São Paulo, o filme já não me parece impossível, nem que o homem tenha em seu corpo partes cibernéticas, que lhe permitam viver dois séculos! Quanto tempo levará para que homens e máquinas sejam semelhantes na aparência? No mesmo jornal leio sobre as oficinas , que estão originando centenas de novos escritores, candidatos a autores da nova literatura. Autores fabricados, como o DNA, que darão origem a deus-sabe que tipo de textos, que literatura.

Não é mais tempo para discussões sobre o natural ou o artificial. É tempo de viver a vida, de forma natural, infestados pelo vírus do bovarismo, esperando que, quando necessário, haja um órgão artificial, que possa ser costurado a nosso corpo, delicadamente, para que possamos ser homens e mulheres centenários e, mais uma vez, a vida imitar a literatura.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sobre professores

Sou professora por opção. Amo o que faço, desde pequenina, quando brincava de dar aulas para minhas bonecas. Cresci numa escola, era o quintal da minha casa, pois minha mãe, também professora, passava boa parte do tempo lá. Talvez tenha sido lá que tenha aprendido a amar o trabalho com as crianças, talvez tenha sido lá que eu tenha assumido o compromisso com a educação, que me faz, por mais de trinta anos, permanecer em sala de aula, primeiro com crianças e depois com adolescentes e adultos. Talvez tenha sido lá que eu tenha me entusiasmado em estudar cada vez mais, a fazer especialização, mestrado, doutorado...
Mas a Escola Virgílio Várzea, no Rio de Janeiro, hoje faz parte de um contexto muito diferente daquele que eu conheci.Os professores não sorriem mais, não se vê nos rostos a dedicação, o entusiasmo de outrora. Não é para menos.O que é ser professor , hoje, no Brasil? Quem são os professores, esses meus antigos ídolos?
Minha mãe, quando professora primária, com uma única matrícula no Estado do Rio de Janeiro, comprou uma casa, descontada em contracheque, por 15 anos.Depois de algum tempo, quando já era diretora de escola, tinha feito faculdade, tinha duas matrículas, ou seja, dois ordenados, naquela época, ela quis comprar uma televisão e teve que percorrer 4 lojas, porque 3 recusaram sua renda.Essa é a triste realidade de nosso país, do professorado do Brasil.
De que adianta a presença de computadores nas escolas, de livros nas bibliotecas, se os professores,que deveriam ser os mediadores entre os alunos e eses recursos,estão cansados,desmotivados,muitas vezes, defasados, em função dos baixíssimos salários, do desprestígio que a classe tem na sociedade.
Ainda há quem queira dizer que o professor no Brasil ganha bem! Chegam a dizer que esse teto ridículo , de 900 reais por 8 horas na escola,é muito bom! Quem faz tal afirmação, nunca trocou de lado numa sala de aula! Quem afirma semelhante asneira, esquece que o professor, quando entra em sala de aula,deveria estar preparado, com uma aula pensanda ao longo do dia, deveria ter estudado, procurado novas opções,buscado as últimas informações, para passá-las, fresquinhas, aos alunos, e que tudo isso requer tempo para pesquisa, para se dedicar!Mas não é isso que vemos.
Está se formando no Brasil uma nova classe de profissionais, que não ouso chamar de professores, mas de sub professores. São profissionais que trabalham dois expedientes nas séries iniciais, ou três expedientes nas últimas séries do Ensino Fundamental ou no Médio. São profissionais que se formam e passam muitos anos apenas repetindo o que ouviram na Universidade, porque não têm tempo para se atualizar, porque ficam exaustos com os múltiplos turnos em sala de aula.... São profissionais que trabalham até 60 horas por semana, para ganhar cerca de 1.800 reais!
Talvez seja por isso que quase ninguém mais queira ser professor, provavelmente é por isso que os cursos de formação de profesores estão à mingua, cada vez mais vazios ... Quem quer trabalhar tanto, ganhar tão pouco, e ainda ser desprestigiado,até humilhado na sociedade, que lhes reserva o título de "professorzinho", apesar da imporância da profissão,apesar de quase ninguém conseguir vencer na vida, sem passar pelas mãos de vários professores...
Saudade dos meus tempos de criança, de meu entusiasmo, da paixão de meus ídolos,que hoje estão quase todos mortos, junto com seus sonhos, junto com a educação de qualidade,que um dia este país teve.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Mês da gripe

Dizem que a arte imita a vida, mas nos dias de hoje, a vida parece imitar a arte.
Faz mais de seis séculos que Bocaccio escreveu o Decamerão, mas a obra nunca foi tão atual. As escolas suspenderam as aulas, as pessoas evitam aglomerações e, de preferência, reunem-se em pequenos grupos(10 pessoas, por exemplo...) ao invés de ir a um bar ou a uma boate. Se não houvesse a TV, o computador, talvez tivéssemos novo Decamerão, outras cem histórias, contadas à roda da fogueira(?), ou junto ao jardim...
Acabei de receber um e-mail, falando sobre os números catastóricos da gripe suína, que parece se espalhar sem que a possam deter. Esse e-mail me fez lembrar outro livro, mais recente, mais próximo a mim: O mez da grippe, de Valêncio Xavier, o Frankstein de Curitiba....Nele, há duas vozes: a oficial e a da oposição. A oficial diz que não havia doença em Curitiba (o e-mail que recebi fala sobre a manipulação dos dados pela secretaria de saúde) e a oposição noticiava a falta de caixões em Curitiba (não chegamos a esse ponto, mas sabe-se que há mais mortes- cerca de 120- do que as anunciadas- 31).
Estranho é que os dois autores partiram da vida para a ficção, e esta agora retorna a sua origem: repete-se o quadro imaginado ao se ler as obras...
Resta, como em Decamerão, esperar o tempo passar, para que a ameça acabe e se possa retornar à vida normal... Resta esperar que tenhamos a oportunidade, um dia, de conhecer uma "Dona Lúcia", que possa nos contar o que realmente aconteceu, sem informações manipuladas, para que possamos conhecer os números deste novo mês da gripe.....