Crônica de sabores, cheiros e cores
Antes de vir para Curitiba, nunca havia comido caqui. Creio que não, porque senão lembraria do sabor dessa fruta, que hoje é uma das minhas prediletas.
No Rio de Janeiro de minha infância, as frutas eram a laranja- presente nas feijoadas também- a banana nossa de cada dia- naquele tempo , coisa barata era comprada a "preço de banana"- o tamarindo- azedinho, ótimo para sucos- a manga "calotinha", que morava em frente à casa de minha mãe e foi derrubada faz pouco tempo -o cajá-manga- da polpa cor de manga e caroço espinhoso, que eu devorava- a melancia, cujo suco escorria pelos cotovelos, comida sem garfo ou faca, o mamão colhido no exíguo quintal de casa , o caju, arrancado do pé, nas férias em Angra dos Reis- o ingá, daquela árvore por sobre o rio, onde meu tio fez um balanço do qual nossos pés jogavam água longe...
Essas eram nossas frutas de todos os dias...maçãs, peras,uvas, morangos , abacaxi geralmente só apareciam no Natal, na pirâmide de frutas, que a família orgulhosamente expunha no centro da mesa.
Aos poucos outras frutas foram aparecendo. Dentre elas, não me lembro do caqui. Gosto do caqui-café, de sua firmeza, de sua doçura. Jaca era uma fruta da qual não gostava muito, principalmente da jaca mole. Com o caqui é a mesma coisa.
As frutas parecem ter aprendido, assim como as pessoas, a cruzar espaços. Hoje, quando vou ao Rio, vejo pitaia (faz pouco tempo descobri que existe), cereja (natural, sem aquele caldinho vermelho que eu amava), néspera, framboesa, damasco...tudo in Natura...
Gosto de frutas. De umas mais que de outras, como a fruta-do-conde, que eu pegava no jardim da casa de minha madrinha. Hoje ela está morta, mas a lembrança do seu quintal ainda vive em mim...
O caqui me levou longe...percorri sabores, cheiros, espaços quase esquecidos e saudades, para sempre guardadas em mim.
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