segunda-feira, 19 de junho de 2023

Protocolando o improtocolável...




 Não nasci ontem. Carrego um punhado de dias nas costas, no rosto... Dias que pesam em meus joelhos, em minha memória, na vista cansada.... Mas sou insistente. Não desisti de viver e nem de ser feliz. Às vezes canso, mas sempre acontece algo que me impulsiona e sigo...Às vezes,  os dias se fazem sentir em minha pouca (pra não dizer nenhuma) habilidade em lidar com a informática. Diante dos vários ícones, me sinto perdida, frustrada, às vezes arrasada mesmo, quase sempre muito icompetente...Disso não gosto.O ego não se acostuma.

Essa é uma questão de difícil solução. A pele sem brilho com alguma sobra é fácil de resolver. Os óculos ajudam a ver o que o tempo embaçou, mas a inabilidade diante do que é , hoje, necessário para quase tudo em nossos dias, maltrata.

Já instituí uma nova classe de alunos: os meus "acessores para assuntos de informática" , então, na sala de aula, as dificuldades são superadas. Mas e em casa? Quando devo acessar o tal "e-protocolo" então...sinto arrepios. Não consigo decifrar aqueles ícones, não consigo identificar a função que eles têm só por seus desenhos. Queria instruções. Tipo:click aqui para saber a finalidade desse ícone. Não tem... Passo horas em frente ao computador e a irritação só cresce: não consigo acabar a tarefa que me foi imposta por esses tempos, em que o professor "não só" deve ministrar aulas, desenvolver projetos, ocupar cargos na universidade, mas também dar conta desses instrumentos que surgiram muito, muito depois de mim...

Fico envergonhada de ligar a toda hora pedindo ajuda. Sinto-me, a cada ligação, mais incompetente, apesar da boa vontade dos colegas que me atendem.

Sei que está na hora de me retirar, mas as mudanças que ocorreram na aposentadoria me obrigaram a mais três anos de permanência. Sempre amei o que faço. Sou daquelas professoras que se realizam em sala de aula, mas está ficando difícil lidar com a burocracia, que só cresce e se sofistica.

Bom, minha mãe dizia: "O que não tm jeito, ajeitado está..." 

Lembrei de uma história infantil: A verdadeira história dos três porquinhos", na qual o lobo conta sua versão e atribui seus infortúnios à falta de açúcar para fazer um bolo para sua avó. No final ele pergunta ao leitor: "Você teria uma xícara de açúcar para me dar?" E eu lhe  pergunto, cá com meus infortúnios :

Você pode me ajudar um pouquinho com o bendito e-protocolo?

segunda-feira, 8 de maio de 2023


 Crônica de sabores, cheiros e cores


Antes de vir para Curitiba, nunca havia comido caqui. Creio que não, porque senão lembraria do sabor dessa fruta, que hoje é uma das minhas prediletas.
No Rio de Janeiro de minha infância, as frutas eram a laranja- presente nas feijoadas também- a banana nossa de cada dia- naquele tempo , coisa barata era comprada a "preço de banana"- o tamarindo- azedinho, ótimo para sucos- a manga "calotinha", que morava em frente à casa de minha mãe e foi derrubada faz pouco tempo -o cajá-manga- da polpa cor de manga e caroço espinhoso, que eu devorava- a melancia, cujo suco escorria pelos cotovelos, comida sem garfo ou faca, o mamão colhido no exíguo quintal de casa , o caju, arrancado do pé, nas férias em Angra dos Reis- o ingá, daquela árvore por sobre o rio, onde meu tio fez um balanço do qual nossos pés jogavam água longe...
Essas eram nossas frutas de todos os dias...maçãs, peras,uvas, morangos , abacaxi geralmente só apareciam no Natal, na pirâmide de frutas, que a família orgulhosamente expunha no centro da mesa.
Aos poucos outras frutas foram aparecendo. Dentre elas, não me lembro do caqui. Gosto do caqui-café, de sua firmeza, de sua doçura. Jaca era uma fruta da qual não gostava muito, principalmente da jaca mole. Com o caqui é a mesma coisa.
As frutas parecem ter aprendido, assim como as pessoas, a cruzar espaços. Hoje, quando vou ao Rio, vejo pitaia (faz pouco tempo descobri que existe), cereja (natural, sem aquele caldinho vermelho que eu amava), néspera, framboesa, damasco...tudo in Natura...
Gosto de frutas. De umas mais que de outras, como a fruta-do-conde, que eu pegava no jardim da casa de minha madrinha. Hoje ela está morta, mas a lembrança do seu quintal ainda vive em mim...
O caqui me levou longe...percorri sabores, cheiros, espaços quase esquecidos e saudades, para sempre guardadas em mim.


Todas as reaçõ

segunda-feira, 2 de maio de 2022

O livro que escrevi

 Talvez seja hora de nova postagem. O livro que não escrevi, continua desconhecido, Mas escrevi outro::Resíduos. Décadas para sair da fantasia e viajar para o papel. Décadas para elaborar sentimentos, medos e deixar que as palavras voassem.

No meio do caminho, além da decantada pedra, mudanças  e mais mudanças. De casa, de amores, e o desejo  ( sempre ele) de mudar de  profissão

Encontro nos meus versos antigos, a angústia que me impulsionou até aqui. Encontro os resíduos da minha vida, dos meus sonhos e dos meu amores.

Mas encontro, acima de tudo, uma grande vontade de viver, de amar. Eros por companheiro...

Alguns versos tolos. Outros nem tanto. Alguns versos de dor e solidão, outros da eterna alegria de estar viva.

Afinal, Resíduos é isso: os resíduos do que li, do que cantei, do que sofri e do que amei. Rresíduos diz muito de mm. Custou, mas vale a pena...



quinta-feira, 12 de julho de 2012

O livro que não escrevi

O livro que não escrevi me visita. Sigo pela rua com ele e seus elementos me fazem olhar ao lado... Quem sabe descubro o espaço onde a história se constrói? Rio de Janeiro, sem dúvida, com seus milhões de carros querendo dobrar, no mesmo instante, a mesma esquina, com seu céu azul, mesmo longe do mar, cartão postal de uma cidade reconhecida pela UNESCO, mas que não seria o cenário de minha história. Um subúrbio, zona norte, lugar quente e abafado, um Rio de Janeiro que turista não conhece. Esse sim seria o espaço ! Elemento dois: o que acontece nesta cidade? A vida inteira que poderia ter sido e que não foi, como em Pneumotórax, Bandeira? Ou a vida que pode ser ainda? O que aconteceu ou acontecerá nessa vida? Livro autobiográfico não. Aventuras? Quais vividas seriam material para a ficção? Nada resolvido. Talvez quem esteja na história me ajude a decidir. Quem? Quens? Protagonista: uma mulher cinquentona, com muita vontade de viver, flanando pela cidade....O que acontece agora? Um assalto? Não, esse é um clichê desta cidade, recorrência negativa que diz pouco sobre ela. Encontra um olhar que a faz estremecer? Ouve uma voz do passado? Se lança em um novo amor? Rememora os antigos? A mulher...a mulher não está só, não quer ficar. Por isso seu olhar perscruta o entorno, em busca de outro olhar, que a ajude a mergulhar numa outra vida, diferente da solidão em que se afundou, e que despreza. Mulher boba, sonhadora..Mais de cinquenta anos na cara e o coração de menina, sonhando ainda com um amor, um outro amor, que provavelmente nunca chegará. Mas ela caminha. Aquele chão lhe é familiar. Foi ali que seus lábios conheceram o primeiro beijo. Ali, naquela calçada, encontrou, um dia, o namoradinho que foi o primeiro amor...Sorriso. Sim, ela sorri. Ainda bem que há boas lembranças. Aliás, muitas. Ela não pode negar que amou muito . Foi amada também, no passado. Mas afinal, quem irá compartilhar as cenas com ela? Um homem? Um homem...que homem? Alto? Baixo? Novo? Grisalho? E seus olhos, que cor refletirão? O azul, o verde ou o castanho, como os dela, que sempre quis ter olhos verdes...Teus olhos castanhos, de encantos tamanhos, são pecados meus...Vozes da infância a embalar, no consolo maternal...Olhos verdes são traição, que nada valem pra mim...Olhos bons de coração, os teus, castanhos leais...Que viagem, hein? O passado... Qual o tempo em que essa história acontece? Determinar ano? Deixar que o tempo se marque pela presença dos viadutos, dos inúmeros carros, da confusão característica de um Rio contemporâneo, num início do século XXI? O passado... quando foi esse passado? Trinta, quarenta anos atrás...Tudo de importante na vida da mulher parece ter acontecido há tempo demais para que se possa precisar. Um bom tempo passou. Mas ela ainda está viva e por isso caminha pelas ruas do Rio, sozinha, é verdade, mas espera que não seja por muito tempo. Seu coadjuvante há de chegar... E quem vai contar essa história? Eu, a autora, devo ficar de fora, segundo a Teoria Literária. Nada de identificação com o autor! O narrador é personagem criado, assim como todos os outros... Muito bem! Narrativa em primeira pessoa? Seria confessional demais! Depois de Dom Casmurro, nenhuma outra narrativa em primeira pessoa foi interessante. Que tal um narrador intrometido, que não é personagem, mas conhece tudo o que se passa no interior dessa mulher? Ele até pode dar palpites... É isso! Está na moda! Um dos prêmios mais importantes do país saiu para um livro com um narrador intrometido. Não que esteja pensando num prêmio para esse livro, que ainda nem foi escrito, mas a ideia me agrada. Resolvido: narrador extradiegético, intrometido . Hahaha...conheço alguém que diria que este texto é uma aula de teoria literária...Ledo engano! É só um livro que ainda não existe se fazendo, são os fios de um tecido que poderia me envolver... Pensar de novo no narrador. O que ele diria a ela? De que forma se intrometeria? Daria conselhos para que ela virasse a esquina, sem olhar para trás, erguesse a cabeça, sorrisse...isso não! Parece clichê demais: sorria, levante a cabeça, siga em frente...que narrador piegas...Talvez opinasse sobre sua silhueta, que se delineia no espelho..fiu fiu...está no ponto, hein? Talvez refletisse sobre os planos de viagem à Europa, talvez até sugerisse um encontro com um italiano charmoso...mama mia... Narrador homem ou mulher? Li um livro em que o narrador era uma narradora...muito bom...Uma narradora entenderia melhor essa mulher, que passa, procura novos caminhos, retorna aos antigos e torna a sair... Por falar em voltar...a narrativa seria em flashback, já se vê, mas o narrador intrometido poderia adiantar, em flashfoward, que ela nem imagina o que lhe acontecerá na viagem...O que será que acontecerá na viagem? Também eu fico curiosa...me dá vontade de esmiuçar a mente dessa narradora, para ver se consigo adivinhar...nada... Muito bem... quando as peripécias começarão? O que as desencadeará? Está ficando difícil conviver com este livro. Ele me toma toda, me tira a tranquilidade, faz com que eu queira estar perto dele, dentro dele, o tempo todo...Não sei, não sei quando as peripécias ocorrerão..meu Deus, não sei nem mesmo por que ocorrerão.... deixe-me pensar... A mulher, a mulher que caminhava resolve que vai seguir só. O trabalho é um ótimo companheiro: workaholic ..isso mesmo, só o trabalho ocupando sua vida, todas as horas dos seus sete dias de suas semanas...assim ia caminhando, até que....Um dia, encontra um endereço na Internet, desses sites de relacionamento. Como a solidão era tanta, resolve entrar, só por brincadeira, para passar o tempo e amenizar a solidão e o silêncio. Eis que faz contato com alguém. Com um homem, um belo, enorme e charmoso homem... não dá para ver a cor de seus olhos pela tela, mas ela crê que sejam verdes...As conversas se prolongam, noite a dentro, até altas horas da madrugada. Os dias passam a ser longos, na expectativa da hora do encontro virtual, que se repete noite após noite... Nunca esteve com ele tete a tete, mas seus pensamentos são tomados por essa presença masculina, que lhe arrepia o corpo, a faz acariciar sua pele, imaginando outras mãos a percorre-lhe o corpo... Foi assim que a encontramos, percorrendo as ruas do Rio de Janeiro, rindo aquele riso misterioso... De repente.....pronto! achei a peripécia....de repente, ela toma consciência de que aquele homem nunca se fará presente, de que nunca deixará de ser um IP, um endereço online, a piscar-lhe nas noites solitárias, depois de, sabe Deus o que ou quem encontrar... De repente ela percebe que aquele afeto, que se construiu pelas luzes e pelas palavras, nunca se concretizará em carne, em beijos, em afagos, tão necessários ao seu corpo inerte... Ela percebe, com a clareza que lhe é peculiar- esta é uma mulher inteligente, apesar de romântica, não esqueçamos...- que aquela imagem que se havia transformado em presença está apenas repetindo elogios vazios; que provavelmente deseja, tão somente, um encontro qualquer, um sexo qualquer, e que ela, como uma menina tola, estava se deixando levar por sua lábia. As ausências começaram a alertá-la, mas o silêncio de luzes piscando em seu quarto e a percepção de luzes piscando em outro quarto, lhe trouxeram a certeza. Epifania fatal.... a vida andava boa, àquela altura.... De volta às ruas do Rio de Janeiro. O céu parece acompanhar sua tristeza...cinza, cinza, cinza...Volta pra casa, pra fugir da chuva iminente... A luz a piscar, insistentemente no computador, já não faz sentido. Sabe que palavras virão, sabe que carícias irá desejar, sabe até que sorriso ele exibirá pelo MSN, encostado no espaldar de sua larga cama, sem camisa... Com um clic, ela sai do site, com outro, desliga o MSN- por que não sai logo do ar?- com outro clic, desliga o computador e fecha a tampa. Para trás mais um ...quase amor..para trás, mais uma lembrança, mais um aprendizado. Daqui a seis meses estará num avião, rumo à Itália- é preciso aprender algumas palavras para sobrevivência- e tudo isso ficará esquecido, apenas uma sensação, nada mais. A torre de Pizza, Veneza, as obras de Miguelangelo....O travesseiro a espera. Encosta a cabeça, fecha os olhos e torce para não sonhar com aquele sorriso, com aquela luz, com aquele afago possível... Parece que está bom... uma mulher moderna, afinal, está sujeita às novas tecnologias, aos amores virtuais, assim como esta mulher. É hora de me despedir dela. O livro está delineado, só me falta desenvolver essas ideias, que me perseguem faz tempo...
Um vazio me tomou agora...a falta daquela mulher que soube amar, que soube esperar aquela luz, como uma adolescente, essa, uma das muitas mulheres que me habitam, e que por hora se despede...

sábado, 12 de março de 2011

Para sempre Gaia


Neste blog, tenho procurado,revisitando Aristóteles, ligar Literatura e realidade. Considerando-se que o conceito de literatura muda bastante- vejamos os formalista, por exemplo- essa não é uma tarefa fácil, apesar dos vários livros editados por Luís Costa Lima,a partir do termo mímesis...
Teorias à parte, falo hoje da minha dor, bem em primeira pessoa, porque ainda está doendo muito.
Faz três dias morreu a Gaia, uma verdadeira mãe, como quer arquétipo junguiano, mas, para mim, acima de tudo, uma companheira feliz, sempre a abanar o rabo vigoroso, derrubando tudo que se encontrava na mesa de centro, "surrando" as pernas alheias, de alegria, pura e simples.
Gaia se foi aos seis anos. Dizem que cada ano canino corresponde a sete humanos. Vá lá. Gaia se foi aos 42 anos. Considerando-se que a média de vida do brasileiro, hoje, está entre 60 e 70 anos, foi-se cedo.
Não consegui relacionar tudo isso com outra obra que não fosse "Marley e eu". Aí começam os possíveis problemas com a crítica: litertura de massa, de entretenimento e não mais o quê. Na verdade, não ligo. O que sei é que o livro- ou o filme- é a única obra que chega perto de meus sentimentos, que fala daquilo que sinto agora: uma tristeza imensa pela perda desse animal, que se fez humano, na convivência diária.
Só esse título dá conta das lágrimas, que teimam em rolar, cada vez que me lembro da Gaia, que me recebia com alegria, noite após noite, quando eu chegava cansada das aulas, e me lambia, generosamente, a cara toda..
Ninguém me recebia como ela...
Lembrei também de um filme : Sempre a seu lado, baseado numa história verídica, que mereceu até estátua no Japão, que falava da fidelidade de um cão a seu dono.
Perdoem-me os mais puristas, mas se a Literatura espelha seu tempo, dá uma opção às pessoas, um outra possibilidade de ver o mundo, não seria esse um caminho? Não estaríamos nós, evoluidíssimos seres do século XXI, necessitando aprender com os seres primitivos, os valores da vida?
Se a literatura, de alguma forma, recria a realidade, alguém deve escrever sobre a dor que eu e minha filha sentimos, ao perder esse ente querido- a cadela Gaia- que por seis anos fez parte de nossa família, mas que, para sempre, estará em nossos corações.
Que a literatura devolva á realidade e se justifique em seu tempo....
Para sempre, em meu coração, a Gaia ficará...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Evoé!!!

Uma grande questão literária é a relação entre Literatura e Realidade. Desde Aristóteles, essa relação se discute. Na verdade, a questão diz respeito à arte em si, não apenas à Literatura. No entanto, a Literatura é a arte que, na maioria das vezes, consegue se antecipar à realidade, e somente ela...
Por exemplo, tomemos o momento atual e um conto de Kafka.
Quem enfrenta filas, quem se sente um inseto (Metamorfose?) em meio às exigências absurdas da burocracia que re- tomou - não quero saber as novas leis de hífen- as rédeas do país, entende o que digo. Tudo parece tão absurdo quanto em "O Processo" !
Literatura é vida, e se a vida da gente anda chata, como anda nesse governo Lula, a literatura acaba espelhando isso, a não ser que o autor renegue esse estado de coisas e tenha um olhar propesctor.....
Por isso gosto de Joca Terron, por isso gosto de André Santana , por isso gosto de Assionara, que não se entregaram a esse discurso político e ficaram apenas(?)com a literatura...
Viver é bom... Com Literatura é melhor ainda....
Viver é muito difícil...(Guimarães Rosa)
O que é difícil, de modo geral, é bom, muito bom....
Vivamos! Evoé!

domingo, 21 de novembro de 2010

Quem tem medo de Monteiro Lobato?


Andam querendo impedir as crianças de ler Monteiro Lobato, porque alegam que ele é racista. Isso nos leva a pensar que interessa a alguém que a obra dele fique escondida, assim como acontece em momentos de ditadura, quando os livros levam a população a pensar, a questionar o que se diz e faz no país.
É verdade que Emília diz coisas terríveis para Tia Nastácia, mas, antes de pensarmos que Lobato quer disseminar o racismo, devemos lembrar que quando o livro foi escrito essa era a relação existente entre negros e brancos. Ou seja, ele não prega, apenas mostra como era. Mas ele mostra também as mazelas do Brasil, algumas delas muito atuais, depois de quase cem anos de publicação.
Convenhamos, se Lobato fosse racista, por que daria tanto espaço para personagens negros, como Tia Nastácia e Tio Barnabé, afetivamente incluídos na família- são tios_ e narradores de histórias importantes para a cultura brasileira?
Essa história de proibir a leitura também traz a lume uma questão importantíssima: a qualidade do trabalho com a leitura que é feito nas escolas, porque a leitura de qualquer livro, quando orientada por um professor, serve para fazer com que os alunos cresçam, tanto como indivíduos quanto como leitores. Acontece que os professores, principalmente os que atuam de 1ª a 5ª séries, não têm formação alguma para trabalhar com a Literatura. No máximo, fazem um "teatrinho" a partir da leitura e, de resto, querem "ensinar" alguma coisa a partir dela. Acontece que para ler Monteiro Lobato, hoje, é necessário que se contextualize sua produção, que se relacione as obras com o momento em que elas foram escritas, até comparando com o atual, em particular, com a questão racista e mostrar diferenças, questionar o passado, ap0resentar novos olhares sobre a questão...
Absurdo é proibir a leitura de Lobato nas escolas porque as professoras não sabem o que fazer com o texto...
Será pretexto? Incompetência?
Será essa a primeira de muitas censuras?
Esperamos que não....